19 jun Entendendo o câncer, com o Dr. Everaldo Hertz
A ciência ainda tem uma longa estrada a percorrer até a cura do câncer. Em muitos casos o foco do tratamento é no controle dessa doença que acomete milhares de pessoas. Alguns mecanismos da complexa engrenagem que é o câncer estão sendo compreendidos gradativamente, e, por isso essa doença ainda não foi completamente dominada.
O CÂNCER NÃO É UMA DOENÇA ÚNICA.
São mais de duzentas doenças reunidas com o nome de câncer, que estão agrupadas sob esta nomenclatura por algumas semelhanças no comportamento das células:
- Reprodução desordenada;
- Células cancerosas não respeitam os limites das células vizinhas (que são normais);
- Capacidade de se expandir para espaços próximos ao órgão onde se originou e se
- Disseminar para outros locais, e, estes novos focos são chamados de metástases.
Apesar desse comportamento, aparentemente comum, a complexidade se explica pela maneira distinta como se manifesta e responde ao tratamento de forma individual. A partir desse comportamento distinto, surgem novos conceitos como a biologia molecular tumoral, personalização do tratamento, medicina de precisão e Terapia-alvo.
Controlados os fatores externos que podem estimular a proliferação das células, é preciso conhecer a genética do tumor. A tarefa não é simples, embora tenha havido grandes avanços na última década. A dificuldade começa pelos números. Cada uma de nossas células tem entre 25 a 30 mil genes.
Alguns estão ativos, outros, não, dependendo da natureza da célula. O câncer de mama, por exemplo, tem pelo menos uma dezena de tipos diferentes, que reagem aos tratamentos de maneira diferente.
O desafio, no caso de um tumor, é descobrir quais genes estão alterados e provocam a ação desordenada das células. Só assim é possível desenvolver drogas específicas, que corrijam a anormalidade identificada. O conhecimento mais importante das últimas décadas foi o de que o câncer acontece porque o DNA das células se modifica e poderá fazer com que as células tenham um comportamento maligno. Uma das dificuldades é que os genes alterados no início da doença podem não ser os mesmos no fim (esses genes podem sofrer mutações durante a evolução da doença, que é uma dos motivos mais importantes, pelo qual as medicações deixam de ser eficazes).
Os avanços para traçar a identidade do tumor vêm em forma de exames cada vez mais sofisticados. Entre eles, há a imuno-histoquímica, que define o perfil de proteína da célula e permite selecionar com mais eficiência os alvos terapêuticos.
Somado a esse teste, há exames ainda pouco acessíveis, como o de hibridização, chamado FISH, capaz de detectar mutações em cromossomos para diversos tipos de câncer.
Com esses avanços e melhor conhecimento da biologia molecular do tumor, classificam-se melhor as doenças, identifica-se como o tumor se comporta como vai responder ao tratamento e definem-se os alvos terapêuticos. Justamente essa diferença genética do tumor pode definir quem se cura e quem vive sadio, mesmo com a presença da doença.
A chamada medicina de precisão, que identifica os alvos a serem atingidos, permite alcançar números otimistas. Um dos primeiros quadros de câncer a se cronificar foi à leucemia mieloide. Há 14 anos, surgiu um medicamento que controla a doença em doses diárias. Um comprimido por dia e é possível viver por tempo indefinido com o diagnóstico.
Outros tantos tumores também têm aumentadas as possibilidades de controle por períodos maiores. Antes, um paciente com câncer de pulmão metastático tinha oito meses de vida, em média. Agora, dependendo do subtipo, pode chegar a 60 meses ou mais.
Para quem desenvolve o tumor de intestino metastático, novas drogas possibilitaram aumento da expectativa de vida de 18 meses para até 10 anos. Da mesma maneira que, a partir de 2004, novas drogas garantiram o tratamento prolongado do câncer de próstata e, nos anos anteriores, outras medicações triplicaram a expectativa de vida de câncer de rim avançado, antes com prognóstico médio de um ano.
Parece pouco para quem busca esquecer a certeza da morte? Mas a oncologia cresceu ganhando meses de vida. E, nesse contexto formado por cientistas, oncologistas, enfermeiros oncologistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, pacientes, familiares e amigos que esse grande grupo de profissionais e pacientes, cada um no seu cenário de ação, desenvolvem estratégias para o enfrentamento, dia após dia, dessa doença complexa que traz ainda muitos desafios futuros.
Uma grande certeza existe: não há imobilidade nessa luta. Cada profissional, cientista, paciente e familiar desencadeia uma luta diária e incansável contra o câncer e, a cada pesquisa que é realizada, a complexidade dessa doença vai sendo compreendida e melhores tratamentos vão sendo desenvolvidos.
A coragem e a fé dessas pessoas que comportam essa doença associado ao amor de seus familiares são grandes terapias complementares no tratamento do câncer e, que em muitos cenários podem não resultar em cura completa, mas evoluem com um bom controle da evolução da doença e uma boa qualidade de vida.
Uma mensagem positiva é sempre transmitida para esses doentes e familiares: o câncer é uma doença que não gosta de pacientes felizes.
Um abraço,
Dr. Everaldo Hertz
Médico Oncologista – Oncocentro
Esperamos que estas orientações tenham ajudado você a entender melhor esse assunto tão importante na vida do paciente oncológico.
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Para mais informações sobre o tema, entre em contato com um médico e tire suas dúvidas.
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